sexta-feira, 27 de maio de 2011

Partes por milhão.

Tédio. Fúria. Compaixão. Cuidado. Dentro, fora, escola, estudo, lágrimas. A vida nos reserva o que pedimos, cada ser encontra no caminho as pedras que pode retirar. Mas poucos sabem disso. Noite, sono, cansaço. Ou desistência? Depende do dia que temos, dos rostos que encontramos, das frases que ouvimos.
Tempo. Morte. Amor. Cura. Se temos o que controlar na vida são as pessoas nas quais escolhemos pensar. Dor. Perda. SAUDADE. As pequenas coisas que nos sacodem, sucumbem, estremecem, são todas para construírem mais de nós, testarem nossa humanidade, nossa fé. E o mundo precisa de fé, porque somos pequenos, confusos, falhos, inseguros.
Amizade, irmãos, carrascos, pensamentos. Você pensa em mim? Pensa em mim na mesma intensidade que tento te fazer ouvir minhas palavras? As pessoas que não conhecemos são as que mais nos conhecem, se é que me entendem. Porque cá estou eu, escrevendo para o amigo desconhecido que você é, enquanto os que me conhecem julgam me conhecer demais. Sorrisos, olhares, gestos. Hoje falei com inimigos.
Rotas, lugares, dias que vão e voltam. O dia de hoje é sonolento e moroso. Feliz, não nego. Tenho tentado esquecer-me de muitas coisas que andavam me perturbando. Lembro infinitamente da May. Ninguém se esquece de nada, apenas troca o pensamento por coisas de maior valor. Coitada da May, lutar contra as prioridades é duro. Ser uma prioridade é mais duro ainda.
Dúvidas. Mantê-las é sinal de fraqueza ou de falta de quem as tire? Carinho. Demonstrá-lo só quando alguém lho tem de volta? Paciência. E cá vamos nós outra vez...

sábado, 21 de maio de 2011

A rosa do povo

NOSSO TEMPO
Carlos Drummond de Andrade
Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
[...]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A ordem natural do caos

Até que ponto um ser humano é condicionado a esperar? Esperar por ser notado, por ser atendido, por ser levado a sério? O problema é que esperamos demais. Qual o ponto que separa perseverança de desperdício de tempo? Linha ténue como a do amor e do ódio, talvez, e até tão difícil de idetificar quanto, mas as proporções são diferentes.
Perseverança chega ao ponto de cansar. Ou seria o desperdício que faz isso? De qualquer forma o amor e o ódio são compartilhados por duas pessoas. Perseverança é um ato solitário e corajoso. Lembro-me de uma boa conversa entre May e Ryan no início do capítulo 18, quando ela o pergunta sobre por que as outras garotas não deveriam mais lutar por ele se ele mesmo lutava demais pela própria May. Ryan costumava se sentir sozinho no processo. Sozinho e desiludido. Com ele acontece que ele não desistiu.
Quantas vezes desistimos, deixamos a chance passar? Eu mesma já perdi chances com DMN, meu filho querido que tanto amo e que tanto tenho medo de errar com ele. Quem conhece e acompanha minha história talvez nem saiba de tudo que eu deixei escorregar com desculpas preguiçosas, ou quem sabe covardes. Palavra forte, uhh.
O engraçado sobre Ryan é que ele tentava tanto que não resistia a experimentar qual seria o gosto da desistência. Se não fosse uma decisão arriscada seria muito inteligente. Se a vida não estivesse testando os nossos limites, experimentar a desistência seria sensato.
O fato é que alguém sempre está esperando que você desista, alguém está torcendo pra que você tente um pouco mais por falta de coragem de fazer o mesmo, alguém está esperando pra te usar como exemplo, alguém está desapontado em te ver jogar fora o que ele mesmo nunca conseguiria fazer. Tentar, perseverar, vencer. Essa é a ordem certa?