segunda-feira, 23 de abril de 2012

Far enough to make you miss me

É mais fácil fugir.
É mais fácil fugir, é mais fácil fazer silêncio. E tudo o que se precisa depois disso é aprender a domar a consciência. Se desligar.
O que se precisa é achar outros lugares para se esconder da chuva, é não esperar sempre pela calmaria quando só se enxerga tempestade. Quando a tempestade vem, deveríamos dançar em silêncio na chuva. Subir em barcos de papel e balançar junto com a correnteza. Porque é mais fácil fugir.
Se escolha eu tivesse, escolheria poder escolher, e eu escolheria o silêncio. Mas somos barulho, somos gargalhada, somos braços erguidos, somos o grito involuntário. Somos pura emoção, mesmo os que não sentem. Só fingem não sentir. E fingem, olhem só, pelo simples fato de que fugir é mais fácil.
E não fogem só os tristes. Os alegres fogem porque já não precisam voltar. Por isso é difícil voltar, por isso tenho voltado aos poucos, por isso tento fazer com que não seja volta, mas seja permanência. Talvez porque lugar seguro não seja mais. E sigo alegre a cantar, e sigo alegre a fugir, porque não posso evitar que seja mais fácil.
Mais fácil seria se mais fácil fosse.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma história de amor

Conheci uma vez um homem apaixonado. Não por alguém, ou sequer por alguma coisa, só apaixonado. E sua paixão era se apaixonar. Pelo desconhecido, pelo novo, por promessas feitas. E cada dia ele se apaixonava um pouco mais, e cada dia achava novas coisas para se apaixonar, e era um sentimento que adicionava uma nova substância às suas veias, mas por muito pouco tempo de cada vez, porque não era real, não eram paixões verdadeiras. E como fazer com que fossem? Afinal, ele precisava que fossem. Mas sabia que jamais conseguiria.
Então precisava se apaixonar por algo mais sólido. Talvez por cheiros, drogas, vícios. E ele se apaixonou pela sensação de ter os vícios misturados com aquela substância, e então achou estar se apaixonando por ele mesmo. Não sabia ele que só se apaixonara pela imagem no espelho, e a imagem não o conhecia, e a imagem passava a ser menos parecida com a matriz.
Até que ele percebeu, finalmente, a diferença. Chorou, lavando assim seus vícios. Desfez-se do espelho e aprendeu a difenciá-lo de si mesmo. Passou a abraçar mais os membros da família, ligou para os velhos amigos e selecionou os novos. Decidiu passar um tempo longe, se curar, se achar e se perder.
Mas algo o atingiu. Um sentimeto novo, uma sensação que não tivera antes. Ou tivera?
Achou ser paixão. É, paixão das boas, e achou que fosse real. Estava atônito com a descoberta. Como pudera se apaixonar tantas vezes e nunca sentir… Não, espera. Tinha acabado. Tinha acabado exatamente como das outras vezes. E de repente estava olhando para o espelho outra vez, e alimentando seus vícios, e mesmo que dessa vez ele se odiasse, as coisas pareciam querer voltar para como eram. Foi então que descobriu que a paixão que era apaixonada por ele. Ela que o perseguia. E depois de descobrir isso parecia sufocante, e louco, e atormentador, e… Pacífico.
No fim de tudo, a paixão o seduziu, até que ele se apaixonou por ela mais uma vez. Quebrado, é claro, mas ela prometeu ser carinhosa e gentil. Ela prometeu que ia... fazê-lo adormecer.