sábado, 18 de junho de 2011

Vida de estudante

Vivemos em uma conspiração. Desde que eu descobri que não somos o espermatozóide vencedor eu ando meio desconfiada - ainda mais do que o normal - das coisas. O quê? Você não sabia? Pois é, somos provavelmente o quarto ou quinto espermatozóide a chegar ao óvulo. Os primeiros morreram tentando entrar, abrindo caminho para nós. Explicada a origem da minha preguiça. A culpa não foi minha.Descobri que os elétrons não são aquelas bolinhas que a professora "Mariquinha" desenhava orbitando ao redor de outra bolinha. Não que eu realmente me importasse, mas depois que descobri que eles são as próprias órbitas, que são ondas, eu passei a duvidar da credibilidade das pessoas que me ensinam coisas. Somos professores de nós mesmos, e sabemos o quanto falhamos.
Descobri que D. Pedro I declarou a independência não por simpatia à nação, mas por medo. Medo de que perdesse tudo de uma vez sem direito a sequer uma lembrança. Quantas vezes hesitamos, recuamos um passo do caminho e cedemos por puro medo? Quantas vezes baixamos o nosso orgulho ao chão com medo de perder aquele alguém que não sabe pedir desculpas? Eu, que tenho medo de ir muito longe e não saber o caminho de volta quando escurecer.
Descobri que Getúlio Vargas não cometeu suicídio, mas que "o suicidaram" aos poucos. Convivemos com a morte todo dia sem perceber. A morte da educação, da gentileza, da paciência. As flores morrem, os mares morrem, o ar que respiramos morre todo dia um pouco mais. O pior? Nós, nossos amigos, o mundo, todos nós morremos paulatinamente com tudo isso. Nos matam.
Descobri que as notas musicais são funções logarítmicas. Lembra-se? Log6=quem-liga. Pois é, temos que perceber que as coisas mais bonitas nem sempre são simples. Talvez seja exatamente o contrário. Posso filosofar o dia todo sobre isso, mas não preciso de nada mais que comparações. As coloridas borboletas saindo dos casulos, aquele gatinho complicado da escola, o cabelo de mulher em dia de festa. Às vezes fazemos coisas boas a vida toda, e um erro que cometemos nos leva ao chão. Qual a primeira coisa que sua mãe repara no seu boletim, a nota baixa em física? Se ela olhasse pra cima veria um dez em literatura.
Descobri que as pinturas de Van Gogh só fizeram fama depois de sua morte. Quantos outros, não é, a história é cheia de casos assim. Inspiração, criatividade e uma pitada de amor formam uma receita deliciosa, mas se hoje trocaram o sabor das frutas naturais por flavorizantes, conseguiram também industrializar o sucesso. Quem pode pagar? A resposta está na tela da TV.
Vivemos em uma conspiração. Sabendo de tudo o que sabemos, sentamos no sofá e deixamos que nos digam o que fazer. A culpa não foi minha.

3 comentários:

  1. Você esqueceu de acrescentar os remédios que temos que tomar quando adultos, para conseguir viver com tudo isso. Criamos uma sociedade que nos mata aos poucos, com tortura, e com um tampinha nas costas nos diz: Vai meu filho, você tem que ser o melhor... Como explicar para uma sociedade que tem dinheiro correndo nas veias, em vez de sangue, que tudo que você deseja, é amor! Aliás, o que é amor mesmo???

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  2. Parece que a sua vida de estudante se confunde com a vida de qualquer cidadão , pois a conspiração envolve a todos e não podemos fugir dela. Podemos viver melhor com ela, sabendo dominá-la e experimentando o que de bom possa ser extraído. Conspirar é próprio do homem e saber lidar com isso é a essência do homem livre.

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  3. Meu, tô falando. A gente tem telepatia! Estou escrevendo uma música sobre essas sensações! rsrs

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